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O VERBO

O Verbo, no dia sétimo
No descanso tão merecido
Juntou barros diversos fez os homens
E, no seu lazer espacial,
fez o último ente especial
Instalou no peito do ser
uma estupenda e fera dor
Nos seus olhos a melancolia
e grande tendência ao amor
Condenou sua vida à boêmia
e suas noites ao insone estertor
De bondade dotou-o o Verbo
Fez dos seus caminhos uma miragem e,
para conter o sofrimento soberbo,
deu-lhe vocação para a vagabundagem
Quando no vadio céu matutino,
a última estrela luzia,
rabiscou o solitário menino, sua primeira poesia.
E, no fim da tarde o Criador,
vendo a obra quase completa,
muniu seu coração duma dor
e duma solidão de asceta.

Disse - o verbo consumador.

Esse homem chamar-se-á... Poeta!!!
Que força é esse homem, que tua mão movimenta?
Agora que os vermes te consomem
que luz estranha te orienta?
Na linha frondosa da tua poesia
pressinto uma sinfonia suspensa
em cada coração, cada rua, cada dia,
paira tua paixão, musa coesa e imensa
Tuas palavras pousam macias
Em meu peito e me espremem
Contra as paredes e o teto
Jorra teu coração um sêmen
gerando um susto, frio e reto
Fluindo em mim, espanto e covardia
O poeta em relação direta e,
amorosa com seu poema
faz na rosa espinhos de seda,
obrigando ser bela a vida concreta
ri da morte, vacila em dilema
reduz o universo a estreita vereda
nada de intelecto, nada rebuscado!
Apenas o jorrar puro e simples
Pela mágica pena da vida
Outrora cinzenta, agora colorida
torna lívido o rosto dos ouvintes
Parecendo sua dor de bom grado,
com as palavras maneja e brinca
contornando linhas sinuosas
florescendo dali sua poesia
Que, em passadas graciosas
desenha no trágico uma alegria
e no belo a melancolia
À amante, prima instrução:
Se em vosso amado observai
um silêncio, sede discreta!
Se houver sintoma de solidão
com serenidade duvidai:
Será meu amado um poeta?
Se os olhos do teu amante
divagam fixos no horizonte
Se trás nublada as frontes
Se te ama na lua minguante, pensa:
Será seu silencioso instante
um fantástico poema sem fonte?
Se no amor, se torna criança
e sorri feliz, quase inocente
É evidente o sério sintoma.
Se não deixa escrito de herança
é porque tem o coração ardente
e o intelecto em estado de coma
Gloriosa é a coma intelectual
e não uma doença repugnante
Isso torna o coração criativo
Pois o silêncio, o riso, etc... coisa e tal
Confirmam: é poeta o teu amante
O diagnóstico é positivo

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